julho 05, 2011

A ascensão da China: e o Brasil com isso?

A China deve continuar crescendo vigorosamente e isto manterá por muito tempo a tendência mundial de valorização das “commodities” primárias em relação às manufaturas. O que isso significa para nós?

No XXIII Forum Nacional, realizado em maio passado, o Prof Affonso Celso Pastore apresentou um trabalho elaborado em colaboração com Maria Cristina Pinotti, intitulado ‘O Câmbio no Brasil: Perguntas e Respostas’. Esse trabalho mostra claramente que a valorização do real de 2010 para cá tem muito mais a ver com a inversão dos termos de troca do Brasil, face ao aumento dos preços das “commodities” por nós exportadas, do que com a entrada de capitais atraídos pela elevada taxa de juros vigente no Brasil.

Na realidade, a valorização do real é mais uma desvalorização do dólar norte-americano em relação a quase todas as moedas, como consequência da política monetária seguida pelos EUA desde a crise de 2008. E essa desvalorização do dólar é especialmente forte em relação às moedas dos países exportadores de “commodities” primárias. A moeda que mais vem se valorizando em relação ao dólar dos EUA é o dólar da Austrália, país que exporta grande quantidade de minérios para a China, mas apresenta internamente uma taxa de juros relativamente baixa.


Pastore e Pinotti lembram também que a maior parte do capital entrando no Brasil desde o ano passado não é especulativo, e visa retorno em mais longo prazo, uma vez que é composto por investimentos diretos, empréstimos bancários e de empresas a suas subsidiárias brasileiras, assim como investimentos em imóveis e ações. Nada do que o governo possa fazer vai frear essa corrente de investimento estrangeiro sem prejudicar fortemente o crescimento do país, pois poupamos pouco e não podemos abrir mão da poupança externa para crescer como precisamos.


E não se pode prever que a situação deva mudar no futuro previsível, com a populosa China continuando a crescer em ritmo forte, mesmo que inferior ao atual. O que fazer, então? Precisamos aprender a conviver com um real forte. Como? Cortando despesas correntes e aumentando a poupança do governo, assim reduzindo nossa dependência da poupança externa. Eliminando a carga tributária que incide sobre os manufaturados exportados, para torná-los mais competitivos. E “last, but not least”, melhorando (muito) nossa educação, a fim de possibilitar mais rápida absorção de tecnologia.