Morreu hoje
Paul A. Samuelson. Quem não é economista provavelmente nunca ouviu falar dele, talvez os novos economistas também não, dado que o seu livro de introdução à economia não é mais o número um há vários anos. É bem possível que eles tenham ouvido falar do Paul Krugman, ganhador do Nobel no ano passado (Samuelson foi o primeiro americano agraciado com o prêmio, em 1970), mas basta abrir o livro de economia internacional do Krugman e lá está Samuelson, em quase todas as notas de rodapé dos primeiros capítulos, responsável pelos teoremas mais importantes, tanto que Krugman não se contém e brinca: "Ele, de novo!"
E assim repete-se a história em muitas outras áreas da economia, o último generalista da disciplina! Aos 22 anos já escrevia artigos científicos que até os dias de hoje são referências (como o seminal sobre a teoria da preferência revelada), recebendo então o apelido de
Enfant Terrible, pela precocidade com que deixava a sua marca na profissão.
Não seria muito exagero dizer que Samuelson foi uma revolução na economia, traduzindo boa parte da teoria econômica para a forma matemática e dando o tom dos avanços da disciplina a partir daí. Está certo que já faz alguns anos que tal procedimento é criticado pelo excesso, mas senão pelo fato de que inverteram a função samuelsoniana, onde a teoria econômica precedia a sua forma matemática.
A matemática é uma linguagem insistia Samuelson, com a vantagem de que é mais fácil através dela descobrir que hipóteses levam a quais conclusões: "
we are forced to lay or cards on the table, so that all can see our premises"(pág. 9). Ah, se os discursos políticos fossem assim!
Talvez isto já não seja verdade hoje, com pesquisadores descobrindo onde podem aplicar seus novos teoremas matemáticos na economia. Boa parte da economia se tornou o que chamou Friedman de
um jogo entre acadêmicos inteligentes com pouca ou nenhuma precupação de como tal jogo se encaixa no mundo aqui fora (sexto parágrafo, quinta linha).
A despeito dos abusos, a economia avançou após Samuelson e o encantamento com a matemática que ele ajudou a criar há de reconhecer as suas limitações, ou melhor, seu uso indiscriminado.
Na nona edição do seu livro introdutório de economia que tenho aqui, lê-se ao final:
"My envy goes to the reader, setting out to explore the exciting world of economics for the first time. That is a thrill which, alas, no one can experience twice. To you who are about to begin, may I only say, bon appetit!"Adeus ao professor, nosso eterno
Enfant Terrible!