Em 2002, logo após ser agraciado pelo Nobel de economia, Joseph Stiglitz escreveu um artigo com Peter Orzag (hoje o diretor responsável pelas propostas da Casa Branca para o orçamento americano) sobre os possíveis custos de socorro às duas maiores empresas ligadas ao setor imobiliário americano, Fannie Mae e Freddie Mac. Isto é, são duas firmas que se especializaram em comprar hipotecas de vários bancos ao redor dos EUA e transformá-las em ativos financeiros, repassando-os a outros bancos. A idéia é boa pois reduz o risco de falência de bancos imobiliários com mercado locais, mas o problema é que a qualidade das hipotecas envolvidas nesta operação só veio diminuindo com a aceitação das famosas sub-prime, isto é, de alto risco. Ambas as empresas continham uma série de garantias do governo americano, sendo chamadas de GSE (government sponsored enterprises, ou empresas "patrocinadas" pelo governo) que na prática diminuiam em muito os riscos associados à operação com estas empresas.
A conclusão do artigo é que o risco de quebra destas empresas era de cerca de 1 chance em 500.000 na pior das hipóteses, podendo chegar a 1 em 3 milhões! Logo, o custo esperado do resgate das empresas pelo governo americano (na simulação deles, prover uma garantia de 1 trilhão de dólares) seria da ordem de "apenas" 2 milhões de dólares (ou seja, o 1 trilhão vezes a probabilidade de quebra 1/500.000).
Seis anos depois, em julho de 2008, as duas empresas tiveram que ser estatizadas pelo governo americano, que até o presente momento, gastou cerca de 287 bilhões de dólares com as duas empresas.
O artigo foi escrito para uma série chamada Fannie Mae Papers e curiosamente foi retirado da página deles. Talvez o Stiglitz devesse devolver o prêmio Nobel, para ajudar a pagar a conta salgada da roleta financeira que estas empresas impuseram ao povo americano, talvez ajudadas pelo carimbo de confiança nobelista...
Dica: EconTalk (entrevista com Charles Calomiris)
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